Quando escolhas e acasos se encontram
Confiar no curso da vida que acontece, não sob nosso controle, mas pelos caminhos sem muitas explicações, têm sido o meu grande tormento. Qual é esse fio condutor invisível supremo que controla os acasos? Toda consequência é fruto de uma escolha ou é a circunstância que indica esses rumos? Devo acreditar em coincidência ou no destino? Essas são algumas das minhas infinitas perguntas em busca de explicação.
Deitei no divã pela primeira vez quando disse para minha psicóloga que havia encontrado o sentido da vida. A certeza durou uma semana. Desde então, sigo alternando entre novas angústias e descobertas. Mas, naquele dia, o grande segredo revelado era sobre o poder das escolhas individuais em determinar os próximos caminhos. Saber que era eu quem controlava minha vida trouxe um alívio profundo, até a página dois.
A angústia voltou. Passei a divagar que, se tudo era então fruto das minhas escolhas, quem garantia que estaria fazendo as certas? Cheguei à conclusão de que o bom seria escolher o poder de não escolher e entregar toda a responsabilidade na mão do acaso. “As coisas são como devem ser” é o mantra da associação dos que preferem se eximir de qualquer culpa que pode aparecer quando se toma as próprias decisões. Sou a fundadora.
Todos esses devaneios me lembraram um episódio que mudou alguns rumos da minha vida. Depois de receber a negativa na última fase de um processo seletivo de estágio e já quase no fim da faculdade, tive a certeza de que só havia feito escolhas erradas até então. Estava decidida em abandonar o curso e voltar para Minas Gerais.
Gastei tanto minha energia e imunidade me lamentando por um passado imutável que ganhei de brinde uma úlcera no esôfago. Isso me impôs uma pausa e reflexões sobre os caminhos que andava traçando. O acaso virou o remetente de uma mensagem em forma de doença, mas uma má alimentação e uso desenfreado de sonrisal para aliviar as azias também foram ótimas escolhas para quem procura um problema no estômago.
Disso tudo, cheguei em algumas respostas e lições:
Não dá para viver de coxinha e nem beber Cantina da Serra como se fosse suco de uva, mesmo que você só tenha 20 anos
É possível conviver de forma amigável com nossas escolhas e possíveis desvios de percursos não planejados. A sacada é não se colocar em situações da qual sabe que gostaria de fugir e confiar no processo
O acaso será sempre um aliado da vida, mas só é capaz de favorecer quem está preparado e atento para fazer escolhas.
E, por acaso, eu estava atenta & forte. Assunto para a próxima sessão.