Por questões do acaso ou qualquer outro motivo, ontem não tive terapia. Então, para cumprir com meu acordo semanal e aceitar os imprevistos da vida, fiz minha própria sessão. O primeiro passo foi tentar reproduzir o cenário do consultório usando a luz amarela da minha luminária. Detalhe: durante o banho. Pois é, depois do divã, o banheiro é o lugar que o meu inconsciente se sente mais íntimo e seguro para pular fora. Foi assim que consegui elaborar sozinha o que seria a continuação da última newsletter (e sessão).
No fluxo de pensamentos sobre acasos e escolhas que surgiam conforme a água caia, lembrei de uma situação da infância. Devia estar no fundamental quando, para um trabalho da escola, meu grupo ficou com a missão de descobrir algumas histórias sobre nossa cidade. Não lembro ao certo quais eram as informações que precisávamos apurar, mas sei que houve dificuldade para chegar até elas. A solução foi pedir ajuda para a mãe de uma das integrantes da turma que, depois de pensar um pouco, lembrou de alguém que poderia colaborar.
Depois de marcarmos a “entrevista”, veio a sensação de missão cumprida. E, para enfatizar que estávamos no caminho certo, a nossa ajudante soltou um incentivo maternal “Agora só depende de vocês. Já estão com a faca e o queijo na mão”.
Acho que essa é minha primeira lembrança do que, futuramente, descobriria como ansiedade.
Quando todas as possibilidades estão ao seu favor, uma voz soberana (nesse caso, a mãe) te obriga a reconhecer o peso do seu desejo e como seus esforços precisam ir de encontro a ele. Afinal, agora a bola tá contigo e as chances de dar gol são altas, só depende de você. Mas existe um goleiro.
É um divisor de águas se reconhecer responsável pelas consequências das próprias ações, isso é fato. Porém, ter a faca na mão nem sempre garante que o queijo será cortado.
Na verdade, a chance desse desejo se transformar em dever e travar em uma lista com mil outros afazeres e sonhos acumulados pela vida toda é bem grande. Digo por experiência própria. Um exemplo, é minha vontade de aprender a tocar violão. Desde pequena carrego essa ideia. Na época, não tinha incentivo e nem condições financeiras para frequentar aulas de música. Depois, já no Rio, ganhei um violão e aulas particulares com um grande músico e professor. Mesmo amando esses encontros, os quais ia mais para cantar e ouvir histórias do Gerson (que hoje, inclusive, diz adorar minhas crônicas), me vi obrigada a aprender. Afinal, nada mais do que justo garantir bons resultados como forma de agradecimento já que, neste momento, me vi com a faca e o queijo na mão. Pena que sou intolerante a lactose.
Essa história tem mais de cinco anos. Como devem perceber, não levo jeito para a coisa e nem segui carreira na música. Mas, para não ser injusta comigo, sei tocar duas: Preta Pretinha, dos Nova Baianos, e Sangue Latino, do Ney Matogrosso. Na verdade, acho que sei. Faz tempo que não treino.
Aprender a tocar violão já não está mais no topo da minha lista de coisas para fazer. Hoje, a minha prioridade é trocar as cordas que arrebentaram.